PiraporinhaFilmes

4 de outubro de 2010

Watchmen o filme


Heróis sem super poderes e de moral duvidosa. Justiceiros deprimidos, lunáticos, psicopatas, hostilizados pela população e peões de um governo inescrupuloso. Não, estes não são os super-heróis que você está acostumado a ver. Bem-vindo ao mundo de “Watchmen

Entre os anos de 1986 e 87, o premiado Alan Moore criou esta série de 12 revistas em quadrinhos publicadas pela DC Comics, que mudaria a cara do gênero. O nome de Alan Moore sempre foi associado a duas coisas no mundo dos quadrinhos: bons trabalhos e brigas com a DC Comics. Autor de obras elogiadas como “Do Inferno”, “A Liga Extraordinária”, “V de Vingança” e sua re-invenção do título “O Monstro do Pântano”, Moore tem como seu trabalho mais premiado a mini-série “Watchmen”, que ainda conta com ilustrações de Dave Gibbons e colorização de John Higgins (a série recebeu um Prêmio Hugo, importante premiação no gênero de ficção e fantasia). E boa parte deste trabalho foi pontuada por diversas brigas do escritor com sua editora, com quem brigava constantemente pelos direitos da série. Depois de cortar relações com a editora e passar por processos contra a mesma, Moore ainda viu alguns de seus trabalhos vendidos pela DC para o cinema. A péssima adaptação de “Do Inferno”, com Johnny Depp, só colocou Moore ainda mais avesso a qualquer uso que a editora pudesse ter de seus trabalhos anteriores.

E finalmente chegou a vez de “Watchmen”. O aniversário de 20 anos de sua publicação quase coincidiu com o anúncio de Zack Snyder de dirigir a versão cinematográfica da revista. Snyder passava por uma ótima fase devido ao sucesso de “300”, outra adaptação de quadrinhos que impressionou pela capacidade do diretor em reproduzir a exuberância visual criada por Frank Miller. Mas dirigir o que muitos consideram “a Bíblia dos quadrinhos” (fãs podem ser bastante exagerados) trouxe o ceticismo de alguns e imediato preconceito de muitos.
Seria Snyder capaz de capturar toda a complexidade emocional da série? Dois anos depois a resposta é sim .
O assassinato de um herói mascarado leva um paranóico colega de profissão a uma investigação atrás de possíveis assassinos de mascarados, reencontrando antigos combatentes do crime que tomaram os mais diversos rumos em suas vidas depois que o governo proibiu sua atuação. Os acontecimentos são catalisados pelo risco cada vez mais claro de um ataque nuclear dos soviéticos aos EUA, que sob a liderança de Richard Nixon venceram a Guerra do Vietnã. Tudo que impede o ataque dos russos é Dr. Manhatan, único super-herói com poderes reais, que trabalha para o governo americano e garantiu a vitória dos ianques no Vietnã. Mas este ser de poderes assombrosos parece cada vez mais indiferente aos acontecimentos do mundo.

A complexidade da trama e a extensão eram os principais desafios para se fazer um único filme que reunisse toda a história de “Watchmen”. As revistas não eram lineares e para o filme manter a fidelidade ao original este teria de ter uma edição genial e a coragem para remover alguns de seus elementos. O filme consegue as duas coisas: reunindo muito do conteúdo que servia de pano de fundo da trama em uma abertura maravilhosa, o filme consegue remover flashbacks que acabariam por aumentar em muito sua já extensa duração (163 minutos). Também foi removida a história paralela contada através das revistinhas de um garoto na banca de jornal e o final foi modificado. Sim, é isso mesmo, Zack Snyder colocou-se à mercê da fúria dos fãs e mexeu no final da obra-prima de Alan Moore. Mas sua explicação alternativa para os fatos funciona tão bem quanto o original, além de economizar um bocado de tramas paralelas. Na prática, o final é tão surpreendente e tão fantástico quanto o original. E com um conteúdo que cabia em aceitáveis 2 horas e quarenta minutos, o filme então pôde ser fielmente inspirado nos quadrinhos. Tudo está lá: as anotações do diário do psicótico Rorschach, as memórias da vida do Comediante, o saudosismo da primeira Espectral e do primeiro Coruja, os monólogos frios e analíticos do Dr. Manhatan. Os diálogos foram mantidos, a perspectiva de muitas das cenas, nem mesmo a violência e a crueza de boa parte da trama foram suavizados
. Watchmen” era uma história para adultos e para adultos ela continuou sendo. Talvez a sátira política tenha sido aquela que mais perdeu espaço, mas com 23 anos muitas das referências da época da Guerra Fria não teriam mais espaço no cinema. Até a lanchonete, a banca de jornais e as propagandas das indústrias Veidt foram mantidas. O filme também merece elogios por escapar da armadilha falsa de criar uma história de ação. O apelo de intermináveis seqüências de ação era forte para agradar o público do cinema, mas “Watchmen” se mantém fiel ao tom introspectivo do original.
A ação está presente nos momentos certos, como numa excelente seqüência no presídio, mas é apenas a necessária e corresponde ao conteúdo da revista. O visual dos cenários é outro exemplo de grande detalhamento, mostrando uma década de 80 suja e decadente. O figurino dos heróis chama atenção especialmente ao criar o movimento da máscara que dá nome à Rorschach. Em cima de tudo isso, o filme ainda adiciona um elemento impossível aos quadrinhos e que surpreende: uma trilha sonora excelente, com sucessos da música americana (temos de Bob Dylan a Simon & Garfunkel, passando por Leonard Cohen). E os efeitos sonoros não ficam para trás.
Apesar de não se destacarem as atuações de Carla Gugino (que faz a estonteante Espectral) e de Patrick Wilson (o Coruja), Jackie Earle Haley mostra que sua escolha como Rorschach foi na mosca. E enquanto a voz rouca e triste é o trunfo de Rorschach, Billy Crudup acerta com o oposto, transmitindo a idéia da personagem fria que é o Dr. Manhatan. Jeffrey Dean Morgan é outra boa escolha no elenco, fazendo um violento Comediante, mas Matthew Goode parece um pouco franzino para assumir o papel de Adrian Veidt, o que ele compensa com boa atuação
Watchmen” pode não agradar o grande público devido à sua trama muito dinâmica e mergulho na psicologia de personagens de moral nem sempre clara. Mas para quem não tem medo de um filme complexo, profundo e que sabe combinar ficção com suspense e um visual absolutamente espetacular, então veja, reveja, decore, maravilhe-se com o fantástico “Watchmen”.









Direção:
Zack Snyder


Roteiro: David Hayter, Alex Tse


Baseado na Obra de:


Dave Gibbons (Watchmen)


Alan Moore (Watchmen)


Elenco:


Jackie Earle Haley (Walter Kovacs / Rorschach)
Jeffrey Dean Morgan (Edward Blake / Comediante)
Billy Crudup (Jon Osterman / Dr. Manhattan)
Matthew Goode (Adrian Veidt / Ozymandias)
Carla Gugino (Sally Jupiter / Espectral)
Malin Akerman (Laurie Juspeczyk / Espectral II)
Patrick Wilson (Dan Dreiberg / Coruja II)
Stephen McHattie (Hollis Mason / Coruja)
Matt Frewer (Edgar Jacobi / Moloch)
Niall Matter (Mothman)




Por: Valter Andrade

0 comentários:

Postar um comentário


Direitos Autorais Registrados: Creative Commons - Proibida Cópia


tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee tim berners-lee

 
Powered by Blogger