PiraporinhaFilmes

29 de setembro de 2009

FOGO CONTRA FOGO(De Niro & Pacino) Os melhors Juntos!

Escrito pelo próprio diretor a partir do piloto para a tevê Os Tiras de Los Angeles, que havia realizado em 1989 para a NBC, Fogo Contra Fogo adota uma estrutura de três atos com durações aproximadas de uma hora cada. O primeiro, claro, se encarrega de apresentar os personagens e seus objetivos básicos; o segundo traz Vincent e Neil se reconhecendo como adversários, culminando na cena em que conversam cara-a-cara; e, finalmente, o terceiro ato traz o assalto planejado por Neil e as conseqüências desta ação para todos os personagens. Contrapondo o ladrão ao policial de Pacino, que, em lugar de amigos verdadeiros, conta apenas com colegas de trabalho, Robert De Niro confere a Neil uma preocupação sincera com os problemas de seus parceiros, que se tornam o mais próximo que ele tem de uma família – e estes, reconhecendo a preocupação do líder, não hesitam em buscar sua orientação ou ajuda sempre que julgam necessário, mesmo que, apesar de tudo, o bandido deixe claro que, em caso de emergência, largaria todos em poucos segundos por uma questão de auto-preservação.

No entanto, quando o filme tem início, Neil encontra-se – talvez pela primeira vez em muitos anos – tentado a baixar a barreira que o impede de manter um relacionamento amoroso. Mesmo não se considerando um solitário, mas apenas um sujeito precavido, ele gradualmente se entrega à tentação afetiva representada por Eady (Brenneman), cujos avanços iniciais ele rechaça de forma agressiva, num instinto básico de auto-defesa. Porém, é durante um jantar com as famílias de seus parceiros que Neil constata o que está sacrificando (algo que Mann ilustra belissimamente através da decupagem que revela o olhar melancólico com que o sujeito observa a dinâmica ao redor da mesa) e, num impulso, liga para a moça. Ainda assim, sua hesitação em romper as próprias regras estabelece uma distância forçada entre ele e a garota – e é comovente perceber como, ao deixá-la adormecida na cama, Neil a fita intensamente, como se tentasse gravar aquela imagem na mente por reconhecer que, no futuro, precisará daquela lembrança para manter sua sanidade.


Curiosamente, enquanto o personagem de De Niro parece disposto a começar um relacionamento, o policial de Pacino encontra-se no caminho oposto, prestes a destruir seu atual casamento: sem se permitir perder o controle em momento algum (suas únicas explosões, como no instante em que grita com um informante, parecem calculadas, sendo empregadas apenas para intimidar), Vincent Hanna mantém sua esposa Justine (Venora) à distância – e sua aparente indiferença a leva a atos extremos em busca de uma proximidade, mesmo que raivosa, do marido. Observem, por exemplo, o instante em que Vincent chega em casa e, notando que Justine está se aprontando para sair, pergunta “Onde nós vamos?” – e, ao não receber resposta, completa: “OK, onde você vai?”, numa calma estudada que condena a provocação da esposa ao fracasso instantâneo. Com isto, ela é obrigada a ir além, mas, novamente, o marido luta para se mostrar indiferente, optando por ignorá-la enquanto confronta o homem com o qual ela se encontra, usando um aparelho de tevê para focar sua raiva (ainda assim, ele finalmente deixa escapar sua frustração ao chamá-la de “vadia”).

Porém, Michael Mann não deixa a tarefa de retratar a dinâmica deste relacionamento apenas nas mãos de seus atores, utilizando sua câmera e suas composições ativamente durante a projeção: inicialmente, por exemplo, quando vemos o casal num momento de rara comunhão após o sexo, Venora surge com uma expressão relaxada em primeiro plano enquanto Pacino a observa ao fundo, mas, mais tarde, suas posições se invertem e, desta vez, eles aparecem sintomaticamente olhando em direções opostas – e é somente no terceiro ato, quando acertam suas diferenças (o que não indica uma reconciliação), é que Mann coloca os atores no centro do quadro, finalmente olhando diretamente um para o outro. Este reencontro, aliás, é movido por um incidente particularmente trágico: a tentativa de suicídio da filha de Justine, vivida por Natalie Portman – e notem que, ao abraçar a esposa angustiada, Vincent a segura com a mesma força e da mesma maneira com que, anteriormente, buscara acalmar outra mãe inconsolável cuja filha fora assassinada por Waingro (Gage). É como se, apenas ao testemunhar um sofrimento indizível, o policial finalmente conseguisse se libertar de seus escudos e se permitisse compartilhar a dor de seus semelhantes, comungando através do mesmo tipo de tragédia que, paradoxalmente, o mantém sempre tão ocupado em seu trabalho.

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