PiraporinhaFilmes

26 de julho de 2010

O Poderoso Chefão (Trilogia)



Parece título de manchete de uma história de terror? Mas é justamente essa a impressão que tive enquanto revia a famosa trilogia agora restaurada. Coppola e seu fotógrafo, Gordon Willis, mudaram os paradigmas da iluminação com O Poderoso Chefão. Isso porque nunca o cinema tinha enfatizado seqüências tão longas no meio da penumbra. Aqui o filme já abre numa reunião, a portas fechadas. Lá fora está acontecendo um casamento. E a forma com Willis intercala o branco do exterior, com o escuro é chocante. Depois desse filme, aliás, o fotógrafo ganhou o caridoso apelido de Príncipe das Trevas, pela forma como trabalhava com as sombras. Note que eu falei que o filme tem seqüências escuras, mas agora com a restauração nada parece homogêneo, como na edição antiga. As pessoas e objetos em cena revelam dimensão. E o filme ganha uma profundidade de campo que eu nunca tinha reparado.
Nos extras essa profundidade também se estende. O maior mito que existe sobre a produção de O Poderoso Chefão é a história dos acordos de Francis Ford Coppola com a máfia novaiorquina. Eles queriam decidir o que poderia entrar e o que ficaria de fora do filme. Por sua vez, a ala executiva da Paramount também tinha suas reservas a fazer. Então chegou um momento em que Coppola não agüentando mais a pressão, marcou um jantar para os dois grupos se encontrarem e chegar a um meio termo. Nesta nova edição existe um extra chamado “A Obra-Prima que Quase Não Existiu”, que toca de leve neste assunto. Perguntam a Coppola se ele fez acordos, e ele, muito esperto, dá uma risada ambígua.
Quando o então jovem Coppola foi contratado para dirigir a adaptação de O Poderoso Chefão, de Mario Puzo, no começo dos anos 70, não imaginava que estava dando partida no maior épico contemporâneo do cinema americano. Quem nunca ouviu falar dos Corleone? Um Coppola entusiasmado tece as particularidades dos três filmes na função comentário em off.
O quarto disco interliga os bastidores dos três com imagens inéditas, depoimentos atuais e histórias contadas pelo próprio diretor, Mario Puzo e outros membros da equipe num jantar de gala. E claro, desenvolve-se um pouco, a história do rabo preso com a Máfia. Se você acha isso ficção, repare no primeiro filme como palavras como Cosanostra, capo e etc não são mencionados nenhuma vez. E repare como os códigos de lealdade são subversivamente glorificados. Por que será?
São estas contradições que tornam o primeiro Chefão um trabalho magistral. Ainda que talvez não a obra-prima, que teremos no segundo filme. No Chefão 2, Coppola investiga o processo de formação da Máfia, lá na raiz, na Sicília, sem o temor de dar nome aos bois. Mostra o processo de imigração e os conchavos que a instituição criminosa habilmente fez com o governo norte-americano durante décadas. E a ironia do senado, no começo dos anos 60, querendo moralizar o país, mas não sabendo lidar com uma chaga que eles próprios deixaram se desenvolver. Há um trecho de interrogatórios do senado, onde o estado inquire os chefões e o juíz não entende os depoimentos. São duas instituições de um mesmo país, falando línguas diferentes.
Coppola está no auge de sua força, talento e imaginação nos dois primeiros filmes. O terceiro é um complemento de muito bom gosto. Operístico, trágico, é o momento em que Coppola evoca Shakespeare, ou melhor O Rei Lear. Michael Corleone é o patrono de uma esposa e um filho que o renega, o regente de um império abalado por um mundo globalizado, que deixa as tradições de lado para fazer mais dinheiro. Nem a Igreja sai incólume das negociatas. No making of da produção, Coppola defende o último exemplar, como parte de um todo. Para ele, trata-se de uma única obra, dividida em três atos.
De fato, apesar dos 18 anos que separam a primeira da última parte, é notável a concepção e unidade do conjunto. Isso se deve não apenas à manutenção de boa parte do elenco e da equipe técnica, mas principalmente à absoluta clareza de objetivos do diretor.
Visto no conjunto, a trilogia apresenta uma forma narrativa em espiral, mostrando os dilemas entre viver para a família ou pelo crime organizado e o preço de manter tudo isso agregado. Nos três casos há um acúmulo lento de tensões que desembocam num clímax de matança. Nos três, também se tangenciam assuntos contemporâneos à história narrada: a Segunda Guerra, a revolução cubana, a crise do Vaticano.
Coppola orquestra tudo neste pack. Num ícone especial apresenta o caderno de anotações do primeiro Chefão, um calhamaço com mais de quinhentas páginas, todo riscado, desenhado e rasurado, que mostra as dificuldades que teve para transpor cada página do livro em imagens. “Eu estava obcecado por criar uma adaptação muito fiel, por isso decupei todo o livro, dividi tudo em cenas e enumerei os problemas que eu acreditava que teria durante as filmagens”.
A história oculta desta saga cinematográfica não se esgota. Duas horas de extras depois, ainda há subtemas a destrinchar. A equipe começa a falar. O criador dos cenários Dean Tavoularis relembra o dia em que a produção baixou num gueto italiano em Nova York e modificou a rotina dos moradores por semanas. “Eles devem ter ficado muito contentes quando fomos embora!”. E o fotógrafo Gordon Willis comenta como teve a idéia de trabalhar na penumbra, estudando os quadros de Caravaggio. Para arqueólogos, um capítulo básico traz as gravações de Nino Rota ao se reunir com Carmine Coppola (pai de Francis) para criar a música-tema, assobiada por todo mundo e relembrada agora por você, leitor, enquanto lê essas linhas.






Para fazer o Download dessa trilogia é só clicar nas imagens na sua ordem.







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