



Porém, Michael Mann não deixa a tarefa de retratar a dinâmica deste relacionamento apenas nas mãos de seus atores, utilizando sua câmera e suas composições ativamente durante a projeção: inicialmente, por exemplo, quando vemos o casal num momento de rara comunhão após o sexo, Venora surge com uma expressão relaxada em primeiro plano enquanto Pacino a observa ao fundo, mas, mais tarde, suas posições se invertem e, desta vez, eles aparecem sintomaticamente olhando em direções opostas – e é somente no terceiro ato, quando acertam suas diferenças (o que não indica uma reconciliação), é que Mann coloca os atores no centro do quadro, finalmente olhando diretamente um para o outro. Este reencontro, aliás, é movido por um incidente particularmente trágico: a tentativa de suicídio da filha de Justine, vivida por Natalie Portman – e notem que, ao abraçar a esposa angustiada, Vincent a segura com a mesma força e da mesma maneira com que, anteriormente, buscara acalmar outra mãe inconsolável cuja filha fora assassinada por Waingro (Gage). É como se, apenas ao testemunhar um sofrimento indizível, o policial finalmente conseguisse se libertar de seus escudos e se permitisse compartilhar a dor de seus semelhantes, comungando através do mesmo tipo de tragédia que, paradoxalmente, o mantém sempre tão ocupado em seu trabalho.
